O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, durante a última reunião do ano, realizada nesta quarta-feira (11), elevar a taxa básica de juros, a Selic, de 11,25% para 12,25% ao ano. A decisão surpreendeu o mercado financeiro, que esperava uma elevação de 0,75%.
O professor de economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Rafael Vasconcelos, destaca que além da elevação da Selic acima do esperado, o Banco Central também prevê mais dois aumentos de 1 ponto percentual para as próximas duas reuniões em 2025, em janeiro e março. “Ou seja, a gente vai terminar o primeiro semestre do ano com a Selic em, pelo menos, 14,25%. É igual ao pico de aumento no período Dilma”, disse.
Ainda de acordo com Vasconcelos, um dos fatores que influenciaram nessa decisão é o aquecimento da economia além da capacidade do país. “Com o PIB (Produto Interno Bruto) mais forte do que a gente esperava, principalmente do lado da demanda, além dos dados da inflação alta de serviços. Do ponto de vista doméstico, tem a questão fiscal do país que ainda está em voga no Congresso, no caso do Brasil, o fiscal influencia bastante na eficácia da política monetária. Fora isso, tem um componente externo, a eleição dos Estados Unidos com a vitória de Trump, com a política mais protecionista, que acaba dificultando o acesso das nossas exportações”, aponta.
O economista destaca ainda que a elevação do PIB reflete no aquecimento da economia, mas com isso acontecendo além da capacidade das empresas, acaba motivando o aumento dos preços dos produtos. “Se a economia está muito aquecida, mas está produzindo mais que a sua capacidade, as empresas querem lucrar, então elas aumentam o preço. Então, PIB mais elevado, mais do que a sua capacidade de produção, tende a gerar um aumento da inflação”, explica.
NO SEU BOLSO
Um dos impactos será no setor imobiliário. “A partir de amanhã, para todo mundo que vai comprar ou financiar um imóvel, infelizmente, vai ficar mais caro. Não só agora, mas provavelmente ao longo de 2025. Por exemplo, uma casa que valia que deveria valer em torno de R$ 300 mil passa a R$ 400 mil. E com um financiamento ainda mais caro”, aponta.
Ainda de acordo com ele, a população pode sentir esses impactos também nas compras de diversos produtos parcelados. “O crediário vai ficar um pouco mais caro agora com juros mais altos. O outro ponto pode ser até de acesso (ao financiamento), muita loja não vai querer mais financiar porque o juros é muito alto”, finaliza.
VAI CONTER A INFLAÇÃO?
Em relação à eficácia da decisão do Banco Central, o economista aponta que o objetivo de segurar a inflação pode ser atingido. “Talvez o Banco Central consiga, é difícil a gente prever porque tem algumas coisas que a gente não sabe, como a possibilidade de Trump inserir cota de importação para os produtos brasileiros e isso tem um efeito inflacionário com o Brasil que não era esperado. Então o Banco Central adotou as medidas mais fortes que ele poderia adotar para tentar controlar a inflação a curto prazo com as informações que ele tem agora, mas as coisas podem mudar”, finaliza.
Em nota divulgada pelo Banco Central nesta quarta, um dos fatores que motivaram a deliberação foi a elevação das projeções de inflação. “O Copom então decidiu realizar um ajuste de maior magnitude, elevando a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 12,25% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”.
Fonte: Thatiany Lucena
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil