O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, afirmou nesta segunda-feira que ficou “surpreso” ao ouvir que as acusações de que há uma ditadura na Venezuela eram “narrativas”. Em suas críticas indiretas, o mandatário não citou em seu discurso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que um dia antes chamou de “narrativa” as acusações contra o regime venezuelano ao fazer um pronunciamento ao lado do líder chavista, Nicolás Maduro, em Brasília.
— Fiquei surpreso quando se disse que o que se passou na Venezuela é uma narrativa. Vocês sabem o que pensamos a respeito da Venezuela, do governo da Venezuela — afirmou Lacalle Pou.
O presidente uruguaio deu as declarações durante uma reunião fechada na cúpula de presidentes sul-americanos, organizada por Lula no Palácio do Itamaraty. Na véspera, Lula fez declarações polêmicas defendendo o regime de Maduro das acusações de autoritarismo. Ao lado de Maduro, durante declaração conjunta à imprensa, Lula também fez fortes críticas aos Estados Unidos pelo embargo econômico ao país vizinho, afirmando que as sanções econômicas são “pior do que uma guerra”.
— O Maduro sabe a narrativa que construíram contra a Venezuela durante tanto tempo, essa narrativa durante muitos anos o [assessor especial da Presidência e ex-chanceler] Celso Amorim andava pelo mundo explicando que não era do jeito que as pessoas diziam que era — afirmou Lula nesta segunda-feira, ao lado do venezuelano, defendendo que o país construa sua própria “narrativa”.
Os elogios de Lula a Maduro vão de encontro ao que afirmam ONGs e organismos internacionais. Dados da Anistia Internacional e um relatório das Nações Unidas mostram que o governo venezuelano viola os direitos humanos e é suspeito de crimes contra a Humanidade. Segundo essas entidades, são constantes as agressões a ativistas de direitos humanos, jornalistas e líderes indígenas. Estima-se que existam pelo menos 300 presos políticos no país que, ao mesmo tempo, enfrenta elevados índice de inflação, pobreza e desemprego.
De acordo com o promotor do Tribunal Penal Internacional , Karim Khan, há base razoável para acreditar que na Venezuela “um ataque sistemático contra a população civil foi cometido de acordo com uma política de Estado”.
Maduro não vinha ao país desde 2015, quando participou da posse do segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, que sofreu impeachment no ano seguinte. Sua presença no país não era permitida desde agosto de 2019, quando uma portaria editada pelo então presidente Jair Bolsonaro proibia o ingresso no país do líder venezuelano e de outras autoridades do vizinho latino-americano.
Durante a cúpula com os presidentes sul-americanos, nesta terça, Lula também enfatizou a necessidade de união dos países da América do Sul e defendeu a retomada da União das Nações Sul-Americanas (Unasul). Para o presidente, a organização permitiu que os países da região se conhecessem melhor, sendo um fórum importante para a solução de controvérsias entre eles.
Fonte: O Globo